segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Entrevista de Hábitos Literários: Michael A. Iora


Se apresente e nos fale quais gêneros literários gosta de ler.
Olá! Eu sou Michael A. Iora, ou simplesmente “Mike”, escritor e escapista, ou vice-versa. Infelizmente não sou um leitor voraz, em grande parte pela falta de tempo para me dedicar à leitura, mas sempre gostei muito deste saudável hábito, e embora tenha preferência disparada por obras de Fantasia (especialmente high fantasy), encontro prazer na leitura de qualquer gênero de prosa. E “lá e de volta outra vez” continuo relendo as obras de J.R.R. Tolkien em capítulos aleatórios sempre que posso.

 Quando resolveu escrever um livro quais foram as motivações?
Comecei a ter interesse na escrita quando tinha 16 anos (1997), motivado por jogos de RPG, mas somente fui “publicar” algo 6 anos depois, quando comecei a escrever fan-fics inspiradas na Terra-média de J.R.R. Tolkien, com personagens criadas por mim e por amigos que fiz na internet. Essas histórias eu atualizava diariamente – a meta era de um capítulo por dia – em dois blogs, e tinha um bom acompanhamento. Acabei desistindo dos blogs devido a prioridades e fiquei alguns anos sem escrever nada. Foi somente em meados de 2006 que comecei a escrever com a intenção de me tornar publicável, motivado por uma trilogia de fantasia que adorara na adolescência e que acabou me frustrando muito na releitura na fase adulta, deixando um gosto amargo de “posso fazer melhor”. Mencionei isso a uma colega de trabalho e ela retrucou: “Por que não escreve as suas próprias histórias?”. Foi o empurrão que eu precisava.

Acredita em inspiração? Quais foram as suas inspirações ao começar a escrever?
A inspiração geralmente é subjetiva. Pode surgir enquanto você lê um livro, assiste um desenho, lê as notícias do dia ou fica observando o movimento das nuvens. Cada vez que tenho uma ideia, faço a anotação para não esquecê-la e uso como material de consulta mais tarde.
Fui fortemente inspirado pelo Quenta Silmarillion, principalmente pelas figuras de anti-heróis apresentados por Tolkien, como Túrin Turambar e – especialmente - Fëanor. Decidi que queria contar histórias onde não houvesse puro heroísmo altruístico, mas sim algo mais realista, baseado nas emoções humanas como ambição, cobiça e raiva, motivações mais legítimas para o engajamento em “aventuras”.

Para você, o que significa ser escritor?
Ser escritor é ser um artista – a escrita é um tipo de arte, bem como o desenho, a pintura, a música, a dança... E como qualquer artista, o escritor é em essência uma criatura vaidosa, que espera conquistar a admiração das pessoas com o seu trabalho. Ser escritor e sentir-se escritor não está relacionado a publicar um livro – mas sim a ser lido e admirado, a ser comentado e elogiado.

Qual livro que você leu esse ano e mais gostou e qual é seu livro de cabeceira no momento? E quais são seus livros preferidos?
Neste ano comprei muitos livros e li poucos, devido ao empenho em publicar o meu próprio. Sem falsa modéstia, o livro que mais gostei – e tive de reler várias vezes – foi o meu próprio (risos). 
Outro livro que “favoritei” foi Lobo de Rua, de Jana P. Bianchi. É uma história curta, mas bastante envolvente, e terminou deixando aquele gostinho de “quero mais”.

Qual o melhor horário para ler na sua opinião? E qual seu lugar preferido para ler?
Sinto-me mais disposto a ler no período noturno, depois de um dia de trabalho, como forma de relaxamento. Acho que o melhor lugar para ler é um bom sofá onde possa me movimentar livremente, porque tenho dificuldade em me manter confortável em uma mesma posição por muito tempo.

Tem algum hábito exclusivo de leitura?
Quanto à leitura em si não tenho, mas tenho três manias um pouco excêntricas: uma é sempre, invariavelmente, lavar muito bem as mãos antes de manusear meus livros; a outra é de não emprestá-los sob nenhuma hipótese (depois de ter vários e caros livros de RPG destruídos pelos empréstimos na adolescência); e a última é não gostar de pegar livros emprestados, pois faço questão de ter os livros que leio.

Que sugestões você daria para os leitores do blog leitura Mania?
Deem uma “chance” aos escritores brasileiros emergentes. Celebre o que é nosso. Se você ler alguma obra de fantasia de escritor brasileiro e não gostar, não acredite erroneamente que todos são ruins – tente outra vez! Posso parecer tendencioso por ser escritor, mas não; antes de escritor eu sou leitor, e tenho procurado conhecer o trabalho de autores nacionais diferentes dos “consagrados” (alguns bastante mal falados, pelo que vejo), e tenho me surpreendido muito positivamente.

Possui algum livro ou conto publicado? Fale nos sobre eles.
Estou lançando meu primeiro romance publicado, chamado O Aprendiz do Arquimago (Chiado Editora, 630 páginas), onde apresento o menino elfo Aglarion e descrevo sua difícil rotina como aprendiz de mago. Ao invés de ir para a escola de magia, ele foi deixado aos cuidados do mais poderoso de todos os arcanos, um tutor que não se mostra feliz com a responsabilidade que teve de assumir, e transforma o treinamento em um verdadeiro inferno físico e emocional para o garoto.
Não tive uma “inspiração” nisso, mas depois de ter o livro publicado percebi uma curiosa analogia: a história ocorre como se o Harry Potter não tivesse ido para Hogwarts, mas fosse morar com o prof. Severo Snape para ser treinado por ele. Só que o Snape é desagradável... já Kyehntw’arthal (o mestre de Aglarion) é totalmente torpe.
Cabe ressaltar que essa história é uma “pré-prequela” para o enredo original que eu criei, para apresentar o crescimento das personagens de uma série que será bastante longa.

Possui alguma página ou blog? Se sim nos fale o endereço dele e nos fale sobre ele.
Tenho um site (www.herannon.com) voltado ao meu trabalho como escritor, que por enquanto ainda é carente de material pelo fato de ter apenas um livro publicado, mas futuramente creio que será bastante relevante. Não funciona como blog e pretendo usá-lo de maneira totalmente “técnica”, somente para divulgar o que precisa ser divulgado.
Confesso que a maior motivação para fazer o site foi justamente o fazer o site – adoro lidar com aplicativos web como Wordpress e Magento, pesquisando e implementando novos recursos sempre que possível. 

Uma pergunta que não fiz e que gostaria de responder?
Pergunta: “Quais aspectos você analisa ao longo de uma leitura? Quais seus critérios para avaliar um livro em redes como Skoob e Goodreads?”

Eu gosto de ser “gentil” nas avaliações, porque se fosse usar um critério prático, poderia dizer que O Senhor dos Anéis vale 5 estrelas e, assim, dificilmente avaliaria uma obra sequer com 4 estrelas. Não comparo obras para fins de avaliação (o que julgo ridículo); avalio, de 1 a 5, o quanto gostei, com um mínimo de requisitos técnicos.
Então meu critério é assim:
5 estrelas: se a história me prendeu, teve uma narrativa bem fluída e harmoniosa, personagens carismáticas, diálogos ricos e um enredo interessante;
4 estrelas: se considerei alguns problemas no estilo narrativo, alguns personagens apáticos, falhas de diálogo, alguns “furos” de enredo ou elementos desnecessários;
3 estrelas: se considerei a narrativa travada, personagens sem graça, diálogos previsíveis ou sem apelo, ações sem justificativas plausíveis, enredos com muitos clichês (desfechos totalmente previsíveis), mas ainda assim uma leitura do tipo “leia, e tire suas próprias conclusões”;
2 estrelas: narrativa fraca e superficial, personagens sem graça, diálogos fracos, ações sem credibilidade, enredo fraco ou mal desenvolvido; uma leitura que eu desencorajaria;
1 estrela: uma bosta.

Na prática, não me sinto à vontade para dar uma nota inferior a 4 para um escritor-amigo; é sempre difícil lidar com as críticas e as pessoas se magoam facilmente, então me abstenho de dar notas para trabalhos abaixo do padrão “bom”, especialmente quando outros leitores o veem como de um padrão superior.


E muito obrigada por disponibilizar seu tempo para essa entrevista.
 Foi um grande prazer, gostei muito das perguntas. Obrigado pela oportunidade, e sucesso ao blog! :D


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